O Ministério Público pediu à Justiça, nesta terça-feira (15), o afastamento da prefeita de Araçariguama (SP). O marido de Lili Aymar e um secretário municipal foram presos em flagrante, na segunda-feira (14), por cobrarem propina de uma empresária.
Carlos Aymar e o secretário de governo da prefeitura, Israel Pereira da Silva, tiveram as prisões convertidas em preventiva pela Justiça. A defesa de Aymar teve acesso aos autos e disse que ficou surpresa com a conversão da prisão temporária em preventiva e que irá entrar com um habeas corpus.
Em nota, a prefeitura negou que Aymar seja o verdadeiro prefeito, que acompanha a apuração dos fatos e não foi citada e que aguardará as suas manifestações para os autos quando tiver acesso.
Sobre a suposta sala que seria de Aymar no prédio, a prefeitura afirma que o ex-prefeito não tinha e nunca teve sala exclusiva na sede.
“Tais afirmações não condizem com a verdade. Sua frequência na prefeitura estava exclusivamente ligada ao inexorável fato de o mesmo ser esposo da prefeita.”
Ainda segundo a administração municipal, foi nomeada de forma interina da Secretaria de Assuntos Jurídicos Nathalia Ortega da Silva, que assumiu a Secretaria de Governo.
De acordo com o MP, um inquérito civil foi instaurado no início do ano de 2017 por uma representação encaminhada afirmando que Carlos Aymar, ex-prefeito de Araçariguama, estaria exercendo as funções de prefeito.
Aymar também participava, conforme o MP, de reuniões entre o Executivo e vereadores, onde supostamente comandaria certas decisões.
Segundo o documento, Lili Aymar, como esposa de Carlos, teria sido escolhida para concorrer as eleições municipais de Araçariguama para garantir o retorno do marido indiretamente ao cargo de chefe do Executivo.
“Entende o Ministério Público do Estado de São Paulo que Liliane Aymar não mais tem condições de exercer o cargo de Prefeita Municipal de Araçariguama, devendo ser dele afastada liminarmente, dada a urgência da situação instalada na cidade.”
O MP também cita que Aymar tinha uma sala dentro da prefeitura e dali “exigia propina de empresária que pretendia honestamente se instalar no município”.
O documento foi assinado por três promotores Suzana Peyrer Laino Ficker, Wilson Velasco Junior e Washington Luiz Rodrigues Alves.
Investigação
Outras três pessoas, que não tiveram os nomes divulgados e também foram citadas pelos envolvidos, foram notificadas pelos investigadores para prestarem depoimento na delegacia de São Roque (SP).
A Polícia Civil já tinha conseguido um mandado de prisão temporária contra Aymar e Israel, mas prendeu os dois em flagrante logo depois do pagamento da propina.
O dinheiro foi encontrado dentro de uma sacola plástica que estava guardada no armário da sala do ex-prefeito. Apesar de não ter cargo na prefeitura, ele tinha uma sala dentro do prédio. Segundo a polícia, os R$ 14 mil foram entregues pela representante de uma cooperativa de habitação como pagamento de propina.
A negociação foi acompanhada pela Polícia Civil, que copiou e marcou as notas antes do valor ser entregue dentro da prefeitura. Antes do encontro, a negociação foi por telefone:
- Vai direto ao ponto, fala ó: eu estou com o terreno, como fazer? Está aqui. Quem você quer que agrega? Tem uma parte, posso já adiantar um pouco para mim, já adianta já um pouquinho também uma parte de lotes. Vou separar já aqui para você, tem uma despesa, aí você fala bem baixinho ou você até escreve no papel: tenho uma despesa, despesa mensal você vai falar, é ele.
O ex-prefeito estava dentro do prédio da prefeitura quando foi preso em flagrante e saiu acompanhado dos investigadores. O secretário de governo foi preso quando chegava ao local. Ele foi algemado e colocado em um carro da Polícia Civil.
Os dois foram levados para a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) em Sorocaba. Eles são suspeitos de associação criminosa e concussão, que é quando funcionários públicos exigem dinheiro ou algum tipo de vantagem.
Foram cinco meses de investigações. Segundo a Polícia Civil, Carlos Aymar e Israel Pereira da Silva exigiram o pagamento de R$ 2 milhões de propina para a liberação de licenças para a construção de um conjunto habitacional.
A denúncia foi feita pela cooperativa habitacional, que pretendia construir 840 casas em Araçariguama. A representante simulou que aceitou participar do esquema de corrupção e, em seguida, procurou o Ministério Público e a polícia com provas do pedido de propina.
De 2000 a 2008
Carlos Aymar foi prefeito de Araçariguama por dois mandados, entre 2000 e 2008. Quando deixou o cargo, trabalhou na Prefeitura de Mairinque, cidade vizinha de Araçariguama.
Aymar tem bacharel em direito e é casado com a atual prefeita de Araçariguama, Lili Aymar. Em 2013, ele também foi preso por corrupção na Operação Valência, que apurava esquema de fraudes dentro da Prefeitura de Mairinque, envolvendo políticos, funcionários públicos e empresários. Na ocasião, ele negou as acusações e o caso foi arquivado.
Fonte: TV TEM